Saiba o que é, quando usar a crase e quando ela é facultativa

A crase é a fusão da preposição “a” com o artigo definido feminino “a” (ou “as”), resultando na formação do “à” (ou “às”), com acento grave (`). Entender quando usar crase é importante para que não haja erros na escrita.

A crase é um dos assuntos que mais geram dúvidas entre os falantes da língua portuguesa.

Muitas pessoas têm dificuldade em como usar a crase corretamente, mas a verdade é que, ao entender suas regras, seu uso se torna muito mais intuitivo.

Neste artigo, vamos abordar tudo o que você precisa saber sobre quando usar a crase.

Se você quer dominar o uso correto do acento grave (`) e nunca mais errar, leia este artigo até o final!

O que é crase?

Antes de aprender quando usar crase, é importante entender o que ela significa. A palavra crase vem do grego krásis e significa “fusão” ou “mistura“.

A crase é a junção da preposição “a” com o artigo definido feminino “a”. Essa fusão é representada pelo acento grave (`), formando “à”.

Regras de quando usar crase

Agora que sabemos o que é a crase, vamos às regras de quando usar esse acento de forma certa.

A crase deve ser empregada nas seguintes situações:

  1. Antes de palavras femininas que aceitam o artigo definido “a”.
  2. Com verbos que indicam destino (ir, voltar, vir) quando a palavra seguinte exigir a preposição “a”.
  3. Em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas formadas por palavras femininas.
  4. Antes dos pronomes demonstrativos “aquilo”, “aquela” e “aquele”.
  5. Na locução “à moda de”, mesmo quando a expressão for subentendida.
  6. Na indicação de horas exatas

Antes de palavras femininas

Se houver uma preposição “a” antes de um substantivo feminino que também aceite o artigo “a”, ocorre a crase.

Exemplos:

  • Fui à praia. (Fui a + a praia).
  • Cheguei à escola cedo. (Cheguei a + a escola).

Para confirmar se é preciso usar o acento grave (`), basta substituir a palavra feminina por uma masculina equivalente. Se “ao” for utilizado, então a crase é necessária.

  • Cheguei ao colégio cedo. (Cheguei à escola cedo).

Com verbos que indicam destino (ir, voltar, vir) quando a palavra seguinte exigir a preposição “a”.

Quando usamos verbos que indicam destino, como ir, voltar e vir, muitas vezes precisamos da preposição “a” para indicar a direção do movimento. Se a palavra seguinte for feminina e aceitar o artigo “a”, ocorre a fusão entre a preposição e o artigo, formando a crase (“à”).

Exemplos:

  • Vou à academia. (Vou a + a academia → ocorre o acento grave (`)).
  • Voltamos à praça. (Voltamos a + a praça → ocorre o acento grave (`)).
  • Ele veio à cidade. (Veio a + a cidade → ocorre o acento grave (`)).

Por outro lado, se a palavra seguinte for masculina ou não aceitar o artigo “a”, não há crase:

  • Vou ao mercado. (Vou a + o mercado → “ao”).
  • Voltamos a Porto Alegre. (Porto Alegre não aceita artigo → sem crase).

Ou seja, a crase ocorre apenas quando a preposição “a” e o artigo “a” estão presentes ao mesmo tempo.

Em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas formadas por palavras femininas.

A crase ocorre em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas quando essas expressões são formadas por palavras femininas e exigem a preposição “a”.

1. Locuções Adverbiais

Algumas das locuções adverbiais indicam circunstâncias como modo, tempo e lugar. Quando são formadas por palavras femininas e exigem a preposição “a”, deve-se usar o acento grave (`).

Exemplos:

  • Fez tudo às pressas. (modo).
  • Chegamos à noite. (tempo).
  • Foi à cidade. (lugar).

2. Locuções Prepositivas

As locuções prepositivas ligam duas palavras e estabelecem uma relação entre elas.

Exemplos:

  • À medida que o tempo passa, aprendemos mais.
  • O projeto será feito à base de pesquisa.

3. Locuções Conjuntivas

As locuções conjuntivas são expressões que ligam orações e expressam uma relação lógica entre elas.

Exemplo:

  • À medida que estudava, compreendia melhor o assunto.

A crase ocorre porque, nesses casos, há a fusão da preposição “a” com o artigo feminino “a”, formando “à”.

Antes dos pronomes demonstrativos “aquilo“, “aquela” e “aquele“.

A crase ocorre antes dos pronomes demonstrativos “aquele”, “aquela” e “aquilo” quando há a mistura da preposição “a” com a vogal “a” inicial desses pronomes. Isso acontece quando o termo anterior exige a preposição “a”.

Exemplos:

  • Refiro-me àquele livro. (O verbo “referir-se” exige a preposição “a” + “aquele” → ocorre a fusão: a + aquele = àquele).
  • Não obedeço àquela regra. (O verbo “obedecer” exige a preposição “a” + “aquela” → ocorre a junção: a + aquela = àquela).
  • Consegui àquilo que queria. (O verbo “conseguir”, quando equivale a “ter acesso a” ou “obter”, pode exigir a preposição “a” + “aquilo” → ocorre a fusão: a + aquilo = àquilo).

Por outro lado, se o termo anterior não exige a preposição “a”, não há crase:
Gostei daquele filme. (O verbo “gostar” exige “de”, e não “a”, então não ocorre crase).

Ou seja, a crase só ocorre se houver a preposição “a” antes de “aquele”, “aquela” ou “aquilo”.

Na locução “à moda de“, mesmo que a expressão esteja subentendida.

A crase ocorre na locução “à moda de” porque há a fusão da preposição “a” com o artigo feminino “a”. Mesmo quando a expressão “à moda de” está subentendida, a crase deve ser mantida.

Exemplos:

  • Prefiro um bife à milanesa. (Equivalente a “à moda de Milão”, referindo-se ao estilo de preparo da carne)
  • Cortou o cabelo à francesa. (Equivalente a “à moda da França”, indicando o estilo do corte)

Nesses casos, a locução “à moda de” pode não estar explícita, mas é entendida pelo contexto, justificando o uso da crase.

Agora vamos ver alguns exemplos em que a locução “à moda de” aparece explicitamente:

  • Ele se veste à moda de antigamente.
  • Ele Escreve poemas à moda de Carlos Drummond de Andrade.

Nesses casos, a crase ocorre porque há a fusão da preposição “a” com o artigo feminino “a” presente na locução “à moda de”.

Uso da crase nas horas

A crase é utilizada antes de numerais cardinais que indicam horas exatas, pois há a fusão da preposição “a” com o artigo feminino “a(s)”. Essa combinação ocorre porque a palavra “hora” está subentendida ou explícita, e exige o artigo feminino.

Exemplos:

Chego ao trabalho às 8 horas. (a + as 8 horas)
O evento começará às 19h. (a + as 19h)
Entramos à uma hora da tarde. (a + a uma hora)

Observe que “uma” é o único numeral que leva artigo feminino no singular, por isso também recebe a crase.

Casos em que não se usa a crase nas horas

Quando a indicação de horário vem acompanhada de certas preposições, a fusão da preposição com o artigo não ocorre, pois a preposição já introduz o termo, tornando a crase desnecessária.

Exemplos:

🚫 Cheguei ao local desde as 10h. (A preposição “desde” já introduz o horário, dispensando a crase.)
🚫 Saímos após as 16h. (A preposição “após” impede o uso da crase.)
🚫 A reunião foi marcada para as 14h. (A preposição “para” elimina a fusão “a + as”, portanto, sem crase.)

Dica prática para usar crase corretamente na indicação de horas exatas

Sempre que houver a preposição “a” antes do horário e a palavra “hora” estiver implícita ou explícita, haverá crase.

No entanto, se houver outra preposição antes do horário (como para, desde, após, com, perante), o acento grave (`) não deve ser usado.

Regras de quando NÃO usar crase

A crase não deve ser empregada nas seguintes situações:

  • Antes de palavras masculinas.
  • Antes de verbos.
  • Antes de pronomes pessoais masculinos e femininos do caso reto: eu, tu, ele (ela), nós, vós, eles (elas).
  • Antes de pronomes pessoais do caso oblíquo (me, mim, comigo, te, ti, contigo, se, si, o, lhe).
  • Antes de pronomes demonstrativos (isso, esse, este, esta, essa).
  • Em expressões formadas por palavras repetidas.
  • Antes de numerais que indicam anos, exceto horas.

Antes de palavras masculinas

Como palavras masculinas normalmente não são precedidas pelo artigo feminino, a junção não acontece, e, portanto, não usamos crase.

Exemplos:

  • Fui a pé.
  • Ele voltou a cavalo.
  • O documento foi entregue a João.

Antes de verbos

Os verbos não possuem gênero e, portanto, não são precedidos por artigo, assim não há junção de a + a, sendo assim, não se usa crase antes de verbos.

Exemplos:

  • Ele começou a correr.
  • Ela aprendeu a nadar cedo.
  • Estamos dispostos a ajudar.

Antes de pronomes pessoais masculinos e femininos do caso reto: eu, tu, ele (ela), nós, vós, eles (elas)

Os pronomes pessoais do caso reto (eu, tu, ele (ela), nós, vós, eles (elas)) nunca são precedidos de artigo definido feminino. Como consequência, não há a fusão do “a” com um artigo, ou seja, a crase não deve ser usada.

Exemplos:

Refiro-me a ele. (Sem crase, pois “ele” não aceita artigo).
Falei a ela. (Sem crase, pois “ela” não exige artigo).
Entregue o documento a nós. (Sem crase, pois “nós” não aceita artigo).

Se fosse um substantivo feminino que aceita artigo, aí sim haveria crase:

Entreguei o documento à diretora. (Aqui há crase, pois “diretora” aceita o artigo “a”).

Antes de pronomes pessoais do caso oblíquo (me, mim, comigo, te, ti, contigo, se, si, o, lhe).

Pronomes pessoais do caso oblíquo (me, mim, comigo, te, ti, contigo, se, si, o, lhe) não aceitam artigo, o que impede a mistura e, consequentemente, o uso da crase.

Exemplos:

  • Ela entregou o presente a mim.
  • Ela Falou a ti sobre o problema.
  • Ele veio a nós pedir ajuda.
  • Ele ajudou a si próprio.

Antes de pronomes demonstrativos (isso, isto, esse, este, esta, essa)

Pronomes demonstrativos como isso, isto, esse, este, esta, essa não são acompanhados de artigo feminino, portanto, não é necessário o uso do acento grave (`).

Exemplos:

  • Não me refiro a essa situação.
  • Vou responder a este e-mail agora.
  • Ela não deu importância a isso e seguiu em frente.

Em expressões formadas por palavras repetidas

O acento grave (`) não existe em expressões formadas por palavras repetidas porque, nesses casos, não há um artigo feminino que justifique a mistura com a preposição “a”.

Essas expressões são invariáveis e funcionam como advérbios ou locuções cristalizadas.

Exemplos:

  • Passo a passo
  • Cara a cara
  • Frente a frente
  • Lado a lado
  • Gota a gota
  • Dia a dia
  • Ponto a ponto
  • Corpo a corpo

Nesses casos, a preposição “a” apenas indica a relação entre as palavras, sem a necessidade de um artigo antes da segunda palavra.

Antes de numerais que indicam anos, exceto horas

Não usa-se crase antes de numerais que indicam anos, pois, nesses casos, a preposição “a” não se combina com um artigo feminino. O numeral não aceita artigo definido antes dele, o que impede a junção com a preposição.

Exemplos:

  • De 2020 a 2024, muitas mudanças aconteceram.
  • O evento ocorreu de 1990 a 2000.

Por outro lado, quando se trata de horas, há a fusão da preposição “a” com o artigo feminino “a(s)”, pois “horas” é um substantivo feminino:

  • O expediente vai das 8h às 18h.
  • A reunião será das 14h às 16h.

Quando a crase é facultativa?

A crase é um dos assuntos que mais geram dúvidas na língua portuguesa. Em algumas situações, seu uso é obrigatório, enquanto em outras é proibido.

No entanto, existe um terceiro caso: quando a crase é facultativa. Mas o que isso significa? Vamos entender.

O que é crase facultativa?

Basicamente, a crase facultativa é o uso opcional, não obrigatório do acento grave (`) e não altera o sentido da frase.

A crase é facultativa em três situações principais:

1. Antes de pronomes possessivos femininos no singular

Quando a preposição “a” encontra um pronome possessivo feminino no singular, a crase é opcional. Isso acontece porque esses pronomes podem ser usados com ou sem o artigo feminino “a”.

Exemplos:

  • Entreguei o presente à minha irmã.
  • Entreguei o presente a minha irmã.
  • Dedicou-se à sua profissão.
  • Dedicou-se a sua profissão.

Todas essas frases estão corretas.

2. Antes de nomes próprios femininos

Se um nome próprio feminino admite o uso do artigo “a”, a crase pode ser utilizada, mas não é obrigatória.

Exemplos:

  • Fiz uma homenagem à Carla.
  • Fiz uma homenagem a Carla.
  • Enviei um convite à Fernanda.
  • Enviei um convite a Fernanda.

Todas essas frases estão certas.

3. Depois da preposição “até”

Quando “até” precede um substantivo feminino, pode haver crase, mas seu uso não é obrigatório.

Exemplos:

  • Fomos até à cidade.
  • Fomos até a cidade.
  • Andamos até à praia.
  • Andamos até a praia.

Conclusão

A crase, embora seja um dos tópicos mais desafiadores na gramática da língua portuguesa, pode ser dominada com o entendimento das regras e a prática constante.

Como vimos, a crase é a junção da preposição “a” com o artigo definido feminino “a” (ou “as”), resultando no uso do acento grave (`).

Seu emprego é obrigatório em situações específicas, como antes de palavras femininas que aceitam o artigo “a”, com verbos que indicam destino, em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas, antes de pronomes demonstrativos como “aquele” e “aquela”, na locução “à moda de” e na indicação de horas exatas.

Por outro lado, o acento grave (`) não deve ser usado antes de palavras masculinas, verbos, pronomes pessoais, pronomes demonstrativos como “isso” e “este”, em expressões com palavras repetidas, ou antes de numerais que indicam anos (exceto horas).

Além disso, há situações em que o uso da crase é facultativo, como antes de pronomes possessivos femininos no singular, nomes próprios femininos e após a preposição “até”.

Dominar o uso da crase não só melhora a escrita, mas também a compreensão da estrutura da língua portuguesa.

Com a leitura deste artigo, esperamos que você se sinta mais confiante para utilizar a crase corretamente.

Lembre-se de que a prática é essencial para internalizar essas regras, então continue praticando e revisando os conceitos para nunca mais errar no uso da crase.

Leia também o artigo “a frente ou à frente” para entender quando usar essa expressão de maneira correta.

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